Como se formam as mágoas? Porque um casal que se ama e que tinha um projeto de vida juntos, um dia se olha e percebe que existe um muro entre eles?
Essas e outras questões são bastante difíceis e complexas de se responder. Mas se tentarmos compreender o que vai acontecendo aos poucos desde o início do casamento, talvez se chegue a algumas conclusões.
Quando um casal se forma, cada um traz consigo uma bagagem, que é composta pela forma como foram criados, educados, amados e respeitados dentro da sua família de origem. Essa bagagem tem um impacto muito grande na forma como cada um vai compor esse novo casal.
Algumas pessoas na tentativa se diferenciar, fazem exatamente o oposto daquilo que seus pais fizeram, outros repetem os mesmos padrões, acreditando que esta é a melhor forma de viver e se relacionar.
É muito difícil que as pessoas se casem com parceiros que tenham bagagens iguais. Sempre existirão diferenças, grandes ou pequenas.
Uma das maiores dificuldades que os casais encontram está justamente em juntar essas bagagens e caminhar junto. Porém, não é possível caminhar junto levando tudo que trouxemos da nossa família de origem, é preciso fazer escolhas, e abrir mão muitas vezes. Para conseguir isso, além do sentimento de amor e de querer bem, será necessário que cada parceiro possua um ingrediente fundamental, a “empatia”.
O significado da palavra ”empatia” é a capacidade de se colocar no lugar do outro. Isso acontece através de uma percepção não verbal do que o outro transmite, pode ser no tom de voz, na expressão facial, nos gestos ou em outros sinais. É preciso ter a capacidade de deixar de olhar para sí mesmo e olhar para o outro.
Ao longo do tempo alguns casais vão desenvolvendo mais e mais essa capacidade entre sí, mas outros, ao invés de aperfeiçoarem essa habilidade, vão criando verdadeiras muralhas, que impedem com que um escute verdadeiramente o que o outro está dizendo.
Quando essa capacidade deixa de existir ou não é desenvolvida, cada um acaba vivendo uma grande solidão. A de não se sentir visto, ouvido e compreendido.
Se nada for feito, esse solidão se transforma em mágoa.
O fato de não perceber e ouvir de verdade o que o outro tenta transmitir, gera um clima de desrespeito com as opiniões, desejos e necessidades dele.
À partir disso instala-se um círculo vicioso entre o casal, que começa com a mágoa de não se sentir visto >> por não se sentir visto vem a necessidade desesperada de se fazer ouvir e perceber >> essa necessidade leva os parceiros a se atacarem mutuamente para defenderem suas posições e desejos >> novas mágoas são criadas >> cresce o desespero em não se sentir visto >> novas agressões e desrespeito vão se somando e construindo verdadeiras muralhas entre o casal.
Viver com esta muralha transforma-se num padrão. Muitos casais vivem assim durante anos, e o pior, se acomodam dentro desse deserto emocional.
Embora para muitos pareça uma situação sem saída, é possível sair dessa falsa zona deconforto e buscar a felicidade dentro desse casamento.
O grande desafio é cada um ter a humildade de deixar os seus pontos de vista de lado e se colocar no lugar do parceiro. É preciso que ambos tenham a coragem, a paciência e muita vontade de ficar junto para enfrentar um processo de reconstrução da relação.
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