Essa é a grande pergunta que psicólogos, sociólogos, filósofos e profissionais de forma geral estão se fazendo nesse momento de pandemia.
Na primeira metade do século passado, Jacob Levy Moreno, psiquiatra formado em Viena, criou uma Teoria Sociológica e Psicológica, com objetivo de tratar toda a humanidade. Na época, a sociedade havia sido assolada por uma grande epidemia e pelas duas grandes guerras mundiais. Provavelmente, as mesmas perguntas que nos fazemos hoje foram feitas também por muitos naquela época.
Através da obra "Quem sobreviverá", Moreno se propõe a estudar as forças positivas que o homem pode utilizar para enfrentar as adversidades da vida, da forma mais saudável possível. Acreditava que a sobrevivência da existência humana estava ligada à sua capacidade criativa e afetiva.
Ele descobriu através de suas pesquisas e prática que aquilo que mantém saudável o psiquismo do homem é a capacidade de ser espontâneo e criativo. Tal descoberta tem sido comprovada pela ciência na atualidade, através de estudos que demonstraram a existência de uma correlação positiva entre espontaneidade, autoestima, autoeficácia e bem-estar psicológico.
Segundo sua teoria, todos nós nascemos dotados de espontaneidade e criatividade.
Contudo, as regras, padrões, moda e tendências da sociedade acabam ditando um jeito de ser e existir, ao qual todos tentam se encaixar, fazendo com que cada vez mais fiquemos preocupados em corresponder àquilo que é externo.
É claro que a conexão com a realidade e com o mundo que nos cerca é necessária e saudável, porém o excesso dessas demandas externas torna-nos cada vez mais automatizados e dependentes do que os outros pensam, julgam e acham sobre nós.
Vamos nos distanciando do nosso interior e daquilo que é mais verdadeiro, nossa essência e autenticidade. Com o tempo, temos dificuldade em distinguir se estamos fazendo algo porque gostamos e aquilo faz sentido para nós ou porque receberemos muitos "likes" e conquistaremos mais seguidores.
De acordo com Moreno, sobreviverão aqueles que conseguirem expandir ou resgatar a sua espontaneidade e criatividade.
Ele descobre que uma das formas de expandir nossa espontaneidade é aumentar a conexão com o nosso interior, nossos sentimentos e pensamentos mais genuínos.
A outra é estabelecer conexões autênticas com outras pessoas. Ele denomina isso de "encontro". É um encontro que acontece através de relações onde um consegue se colocar no lugar do outro, onde ocorre uma “empatia de mão dupla”.
Por isso não é qualquer conversa ou encontro que ampliará nossa capacidade espontânea e criativa, mas sim encontros que tenham essa qualidade.
Por isso as psicoterapias que priorizam esse “encontro” são tão importantes na promoção de mudanças e de uma melhora na saúde mental. Elas oferecem um contexto relacional onde a “empatia de mão dupla” é possibilitada através da relação terapeuta-paciente, e com isso a possibilidade de ampliação da espontaneidade e criatividade.
Nossa sobrevivência como espécie humana mais uma vez está sendo desafiada. Talvez uma das melhores formas de sobreviver a todas as perdas, lutos e adversidades que essa pandemia trouxe, protegendo nossa saúde mental e nosso bem-estar emocional, será a abertura a esses encontros verdadeiros, onde possamos nos colocar no lugar do outro e o outro em nosso lugar.
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