Rita Trevisan e Simone Cunha
Do UOL, em São Paulo
20/01/2015
Uma pesquisa sobre hábitos de uso da internet por jovens brasileiros, realizada pela Safernet –ONG que tem como missão defender e promover os direitos humanos na web–, divulgada em 2014, apontou que 20% dos adolescentes já receberam textos ou imagens sensuais e eróticas, e 6% enviaram conteúdo desse mesmo teor. Desses, 63% confirmaram ter enviado mais de cinco vezes esse tipo de mensagem a alguém da sua rede de contatos.
"Os aplicativos para celular Whatsapp e Snapchat são os mais utilizados por essa faixa etária", afirma Rodrigo Nejm, diretor de prevenção da entidade responsável pelo estudo. O comportamento é tão comum que ganhou uma expressão própria na língua inglesa: “sexting" que é a união das palavras “sex” (sexo) e “texting” (envio de mensagens).
Na prática, o termo expressa a maneira como os jovens têm manifestado sua sexualidade, compartilhando sua intimidade em redes sociais e aplicativos de celular. “Tudo começou com textos mais eróticos. Depois, os adolescentes passaram a enviar fotos sensuais (nus e seminus) e vídeos que mostravam cenas de relações sexuais, até mesmo dentro de escolas”, diz Nejm.
A prática deixa os adolescentes bastante vulneráveis e por isso é essencial que, em casa, os pais conversem abertamente sobre o assunto. De acordo com Alexandre Saadeh, especialista em transtornos de sexualidade do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), os jovens têm habilidade para lidar com a tecnologia, porém não têm maturidade para discernir os limites de privacidade e para avaliar possíveis consequências de seus atos.
"Dialogar é imprescindível. Os pais devem estar atentos aos temas atuais, precisam se inteirar do universo do filho para poderem orientá-lo corretamente", diz o especialista.
Para Saadeh, discursos moralistas e proibir ou limitar o uso da tecnologia não surtem efeito. “Os pais precisam ter paciência para dialogar sobre a vida online de seus filhos, evitando riscos e danos futuros”, fala Nejm. Nesse caso, navegar junto, manter-se próximo e questionar os filhos, quando necessário, são atitudes válidas. Esse acompanhamento e o diálogo sobre o uso da tecnologia devem começar cedo. Segundo os especialistas, a partir dos cinco ou seis anos de idade, a criança já deve receber orientação sobre privacidade para saber o que pode compartilhar na internet.
Segundo a psicóloga Miriam Barros, psicodramatista formada pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), o assunto tem de ser abordado antes que ocorra algum tipo de problema, pois remediar é muito mais complicado.
Respeito e relação de confiança
Em geral, o conteúdo de “sexting” costuma ser compartilhado por garotos e garotas. No entanto, elas são as vítimas mais frequentes desse tipo de exposição. “A repercussão de imagens femininas costuma ser maior, provocando reações mais negativas e violentas”, diz Nejm. De acordo com a psicóloga Miriam, cabe aos pais tentar entender qual é a motivação dos filhos que se expõem na internet. Ela reforça a importância de um diálogo amoroso, que contemple argumentos consistentes em vez de acusações e agressões.
"O jovem deve ser bem orientado para não mostrar algo tão íntimo. O relacionamento pode não durar para sempre. E o que foi compartilhado na internet dificilmente será apagado", fala a especialista. Os filhos devem ser ensinados a respeitar e a não quebrar a relação de confiança com o par. "O pai de um jovem que expõe o outro precisa ter uma postura ainda mais firme do que a do pai que tem um filho exposto", diz Saadeh. Isso porque um adolescente que recebe uma imagem íntima e compartilha está cometendo uma grande violência, ignorando valores como respeito, consideração e confiança.
"O jovem precisa ser educado para mudar suas atitudes e sua forma de pensar. Caso contrário, chegará à fase adulta sem valores muito claros e poderá ter dificuldades de relacionamento", declara o psiquiatra.
Uma atitude responsável, segundo Miriam, é ensinar o filho a se colocar no lugar do outro. E, ao descobrir que errou, o adolescente deve ser orientado a refletir sobre o comportamento adotado, buscando melhorá-lo. "Não adianta culpá-lo, pois isso tende a afastar o filho dos pais. O mais importante é estar disponível para ouvir, esclarecer e mostrar alternativas melhores", afirma Saadeh.
Para saber mais
A Safernet Brasil disponibiliza em seu site uma cartilha com informações sobre como lidar com o problema. Além disso, oferece o Helpline, um serviço de orientação online gratuito, via bate-papo, com psicólogos.
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