Lygia Haydée
Estamos, todos, submetidos a uma avalanche de informações. Saiba o que fazer para que a sua cabeça e a sua vida não corram o risco de dar tilt.
Twitter, YouTube, Google, redes sociais, Instagram, blogs, revistas digitais. O mundo definitivamente não é o mesmo depois do advento dos cada vez mais numerosos meios de comunicação digital. Nem as pessoas. O tremendo fluxo de informação gerado pelo mundo digital não está mudando apenas os nossos hábitos, mas as nossas capacidades mentais. A facilidade de encontrar qualquer coisa que se queira é tão grande que criou-se a ideia de que é preciso estar a par de tudo o tempo todo. E isso não faz nada bem. O problema é tão sério – há mesmo quem diga que está entre os principais males do século 21 – que até já recebeu nome: ansiedade da informação.
“Suprir a necessidade de estar sempre bem informado gera ansiedade e ela reduz a capacidade de prestar atenção e diminui a habilidade de apreender as informações”, aponta Paulo Bertolucci, neurologista da Unifesp. Para Miriam Barros, psicóloga especialista em psicodrama, as pessoas estão mais suscetíveis ao estresse gerado pela sensação de que se perderem alguma notícia ou se ficarem desconectadas as coisas sairão do seu controle.
A enxurrada de notícias, fofocas, opiniões, críticas, mensagens, conhecimento é tão grande que, estima-se, um trabalhador tem o seu foco redirecionado praticamente a cada 3 min, distraído que fica por um e-mail que acabou de chegar, a postagem de um amigo no Facebook ou por um telefonema. E leva-se quase meia hora para ele voltar a atenção ao que estava fazendo antes. Estudos como o da Universidade Yale (EUA) mostram que ter a atenção dividida não só piora a memorização como também leva à queda de produtividade no trabalho e a erros.
Mas não é só. A aflição por manter-se permanentemente ‘conectado’ também está afetando a capacidade de as pessoas tomarem decisões. Quem nunca se pegou parado olhando fixamente um cardápio porque tudo parece igualmente apetitoso?
O psicólogo britânico David Lewis, primeiro a usar o termo "síndrome da fadiga por informação", diz que a incapacidade de tomar resoluções resulta do fato de as pessoas estarem querendo processar mais dados do que são capazes. E isso, obviamente, também expõe o cérebro ao risco de dar tilt. “Quando somos bombardeados por informação, o cérebro não dá conta. Mesmo ele sendo elástico do jeito que é – já que é capaz de identificar milhares de estímulos a cada segundo –, em algum momento ele chega ao seu ponto máximo e não consegue mais reter informações”, explica Saul Cypel, neuropediatra do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Massacrar a cachola com dados também gera uma tremenda sensação de cansaço e até insônia (você já não teve dificuldade para pegar no sono ou passou a noite em claro por sentir que a cabeça estava cheia demais?), irritabilidade, sensação de impotência (afinal, quem consegue dar conta de tantos dados?) e procrastinação. Não raro podem mesmo aparecer dores no corpo e o coração pode até disparar.
O grande enrosco é que para muita gente essa afobação por querer saber de tudo permanentemente traz um sentimento agradável. “Muitas pessoas ficam dependentes da quantidade excessiva de conteúdo porque tudo aquilo gera prazer e ele pode se tornar um vício. Ao estar conectada e informada sobre tudo, a pessoa sente um grande bem-estar, o que atrapalha ainda mais a identificação do problema”, conta Miriam.
Para que você não corra o risco de ficar atolado em tanta informação, é fundamental filtrar o que se manda para dentro do cérebro. “É preciso que a pessoa use a sua capacidade executiva. Se ela tem um objetivo, deve traçar um plano com prioridades, fazendo seleções de conteúdos para que não haja exagero de informação. É claro que o aprendizado é delicioso, mas você deve saber que ele tem limites para que o cérebro assimile o conteúdo analisado”, ressalta Cypel. Aprenda a ser seletivo, colocar limites e priorizar apenas o que realmente é necessário ou o que você precisa. Se você fica plugado o tempo todo, faça pausas frequentes.
Dê uma levantada, vá conversar com um colega ou um amigo ou tome um cafezinho. Relaxe a cabeça.
Ioga, meditação, uma viagem no fim de semana ou nas férias, um livro ou uma boa música ajudam, e muito. “Ou encontre atividades físicas que você goste de fazer. Isso vai ajudá-lo a se desconectar um pouco mais”, aconselha a psicóloga. E, importante: tenha amigos reais. As redes sociais e os e-mails fizeram com que a comunicação ficasse ainda mais fácil. Mas para que o seu cérebro não pife, é preciso, também, investir em encontros com os amigos. Não deixe isso de lado nunca!
Você sabia?
A expressão “sobrecarga da informação” foi usada pela primeira vez em 1970, quando o escritor e futurólogo Alvin Toffler disse que o excesso de dados acabaria por trazer problemas para as pessoas.
Novidade no pedaço!
Um novo documentário Fomo examina um dos grandes males da contemporaneidade: a síndrome de achar que você sempre está perdendo alguma coisa (ou fear of missing out, no inglês), que “explodiu” com o advento dos smartphones e tablets.
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