Entrevista iG
Decisão pela acomodação das crianças na casa deve respeitar as personalidades dos filhos e as necessidades de privacidade que surgem com o passar dos anos
Ao receber a notícia de uma segunda criança a caminho para aumentar a família, surge a dúvida: os irmãos devem dormir no mesmo quarto ou é melhor que cada um tenha o seu espaço? “Não tem certo e errado nem regra fixa. Tudo vai depender especialmente da possibilidade da família e das personalidades das crianças”, responde a psicóloga clínica Miriam Barros, psicodramatista pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e psicoterapeuta de crianças, adolescentes, casais e famílias.
A psicóloga e pedagoga Penélope Ximenes, mestre em educação pela Universidade de Brasília (UnB), destaca que não é raro um pai ou uma mãe querer transferir para os filhos o que traz de sua vivência familiar. “Se dormiu no mesmo quarto que o irmão e foi ótimo, vai querer colocar os filhos em situação idêntica. Se detestou ter que dividir o quarto, vai fazer o possível para os filhos não passarem por isso. Se queria ter compartilhado um quarto com o irmão, mas os pais não deixaram, vai tentar forçar os filhos a dormirem no mesmo cômodo, mesmo que haja espaço na casa”, exemplifica.
Segundo ela, permitir que memórias afetivas controlem a decisão é um erro. “Os pais precisam entender que a experiência de vida deles não se refletirá com exatidão no amadurecimento de seus filhos, porque cada indivíduo é único”, justifica.
Confira a seguir as dicas das profissionais para cada situação: filhos com grande ou pequena diferença de idade ou meninos e meninas:
Quando há um quarto para cada filho
Diferença de idade pequena (até quatro anos)
O melhor é que cada um tenha seu quarto. Colocar os filhos no mesmo cômodo sem que nenhum deles peça, apenas com a intenção de que sejam melhores amigos, é um esforço desnecessário. “Não existe relação de causa e efeito entre dormir no mesmo quarto e desenvolver laços afetivos. Isso não altera em nada a afinidade, ou a falta dela, entre irmãos”, explica Penélope.
Mas, caso um tenha medo de dormir sozinho ou sinta necessidade de companhia e o outro não se incomode, os dois podem dividir um quarto até o momento em que um deles reivindicar privacidade.
Atenção: se o outro não simpatizar com a ideia logo de cara e expressar que prefere manter seu espaço para si, os pais devem respeitá-lo. “Não se pode satisfazer um em detrimento dos sentimentos do outro. O filho medroso ou inseguro terá de lidar com isso de outra maneira e com o apoio dos pais, até porque proporcionar segurança para as crianças é função deles, não do irmão”, afirma Miriam Barros.
Meninas e meninos
Por uma questão de praticidade e organização, irmãos de gêneros diferentes devem ser donos cada um de seu cômodo na casa desde o início da vida. Se eles pedirem para ficar no mesmo quarto por serem amigos, ou porque um tem medo de dormir sozinho e o outro aceitou a divisão, o acordo pode durar até a menina chegar à puberdade, seja ela a primogênita ou a caçula. Nessa fase, ela vai querer mais privacidade e espaço para seus pertences (roupas, acessórios, diário). “Os meninos dificilmente criam caso quando ficam mais velhos. Meninas costumam ser mais impositivas nessesentido”, diz Penélope.
Diferença de idade grande (cinco anos ou mais)
O ideal é que fique cada um no seu quarto. Quando o mais velho chegar à adolescência, o caçula ainda será criança, e nenhum deles se sentirá bem dividindo o espaço sem necessidade.
Quando há apenas um quarto para os dois filhos
Diferença de idade pequena (até quatro anos)
O berço do caçula deve ficar no quarto dos pais até que ele consiga dormir a noite toda. Isso é importante para preservar o primogênito, “que já está sofrendo com a perda do posto de filho único e do espaço que antes era só dele”, de acordo com Miriam.
Quando chegar a hora de os dois filhos dividirem o quarto, uma boa forma de minimizar possíveis traumas do mais velho é envolvendo-o na arrumação dos armários. “Ele precisa sentir que não está perdendo espaço, mas sim começando a dividir. Os pais devem repetir isso para ele quantas vezes conseguirem ao longo da gestação e também dos primeiros meses de vida do irmãozinho”, orienta Penélope.
Com o passar do tempo, os pais precisarão ficar bastante atentos às diferenças de personalidade dos irmãos. Se um for organizado e o outro, bagunceiro ou um quiser a luz acesa o tempo todo e o outro quiser apagá-la, por exemplo, será necessário que os adultos estabeleçam regras de relacionamento e convívio.
Ao atingir a puberdade, a menina reivindicará privacidade. Como ela não terá outro quarto para onde ir, Penélope sugere que os pais lancem mão de biombos e divisórias para criar dois ambientes distintos no mesmo cômodo. “Uma decoração que delimite bem o espaço de cada um, com cores diferentes, também ajuda”, complementa.
Diferença de idade grande (cinco anos ou mais)
É a melhor situação para a divisão de quarto entre irmãos, porque a criança mais velha já consegue entender melhor a presença do bebê e acolhê-lo sem sentir que ele representa uma rivalidade ou uma ameaça ao amor que os pais sentem por ela.
Até que o bebê consiga dormir a noite toda, seu berço deverá ficar no quarto dos pais, para respeitar a noite de sono do primogênito – afinal de contas, são os pais que devem cuidar do recém-nascido que acorda à noite com fome ou dor, o irmão não pode fazer nada para ajudar.
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